27 abril 2010

O FIM ÚLTIMO DA VIDA




"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê.
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.

É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.

A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

João Pereira Coutinho, Jornalista

2 comentários:

  1. Nos dias de hoje o mundo parece estar de pernas para o ar. A sociedade tem se transformado bem como os ideais das pessoas. Se no passado o sonho era casar e constituir família, hoje é bem diferente, e passa (quer pelo o homem, quer pela mulher) de construir a sua carreira, todos têm as suas ambições, cada vez maiores numa sociedade cada vez mais sem escrúpulos. Mas por um lado que futuro terão os vindouros? Observando o mundo actual, diria até que hoje colocar um bebé no mundo, só o irá fazer sofrer. As crises passaram a ser cíclicas desde o 11 de Setembro, a Agua daqui a umas décadas é bem possível que passe a ser racionalizada, o aquecimento global do planeta, as novas pandemias e vírus, a crescente falta de emprego, etc. Infelizmente tenho de dizer que não auguro nada de bom para o futuro dos que hoje nascem.

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  2. Olá Ricardo! Estive fora do País e só hoje vi o seu comentário. É bem verdade, o mundo real em que vivemos está cruel. Aconselho que unamos esforços, dar as mãos e juntos conseguiremos um mundo mais equilibrado. De qualquer forma isso sempre virá a acontecer.

    Leia a minha RECEITA PARA O SUCESSO DA ALMA.

    QUE O SOL SEMPRE BRILHE NA SUA VIDA

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