04 junho 2010

EU NÃO SIRVO DE EXEMPLO


Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se tu queres saber se isso é possível, ofereço-me como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita Alice, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho meu dinheiro, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuidei dos filhos, marido, telefono sempre para minha mãe, procuro as minhas amigas, "namoro", viajo, vou ao cinema, pago as minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro plantas para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas(com os dentes) e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclui na tua lista a Culpa Zero.

Quando tu nasces-te, nenhum profeta entrou na sala da maternidade e te apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento tu serias modelo para os outros..

Teu pai e Tua mãe, acredita, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que tu não chorasses muito durante as madrugadas e mamasses direitinho.

Tu não és Nossa Senhora.

Tu és, humildemente, uma mulher.

E, se não aprenderes a delegar, a priorizar e a te divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é encarar qualquer projecto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala. Adoro fazê-lo

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos, e de roupitas.

Tempo para sumir dois dias com meu amor.

Três dias..

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela minha amiga que é consultora da ...

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajour novo para o meu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas. (Muitas)

Voltar a estudar.

Para engravidar. (Milagre)

Tempo para escrever um livro que eu nem sei se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que eu posso ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam a nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, óptimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que se lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se tu precisas vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, estás precisando rever teus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esquece o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e dar-nos uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'

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